Uma vida ao serviço de Portugal

Se é amante de fotos de arquivo, conhece sem saber o Coronel Bento Esteves Roma. Uma fotografia, que se tornou num dos emblemas da participação de Portugal na Grande Guerra, mostra o desfile das tropas nos Campos Elísios no dia 14 de Julho de 1919. À frente do pelotão encontra-se um pequeno homem de bigode: é o Capitão Bento Roma. É nomeado Coronel em 1933.

Nascido em Chaves, junta-se ao Exército português no dia 5 de agosto de 1903 e serve no 6º regimento de cavalaria até 1906. Entra de seguida na Escola militar e torna-se Segundo-Tenente em 1909.

Em 1912, embarca para Angola onde permanece até 1916. Nesta data, Bento Roma é enviado para a frente Oeste. Em Dezembro, encontra-se na Grã-Bretanha onde recebe uma formação pelo comando britânico. A seguir, participa, desde o quartel-general britânico de Etaples, nos preparativos para a chegada do Corpo Expedicionário Português em França. A partir de 14 de Janeiro de 1917, encontra-se em Mametz. Prepara e organiza o campo no qual as tropas portuguesas formadas em Tancos receberão, à chegada em território francês, um treino militar complementar.

Em Abril de 1918, é nomeado como Segundo Comandante do 13º batalhão, no posto de La Couture. Este batalhão de reserva é instalado no “reduto”. Trata-se de um grande esconderijo que cobre uma parte do centro da cidade de La Couture. Este local é protegido por fios de arame farpado e por pequenas fortificações rodeadas de metralhadoras. Um vestígio é ainda hoje visível no jardim público localizado atrás da igreja. Quando a batalha deflagra, o Capitão Bento e as suas tropas encontram-se no centro da acção. Efectivamente, o bombardeamento do exército alemão destruiu as primeiras linhas e derrotou os soldados. O avanço do inimigo é metódico e inexorável. O ataque terrestre começa às 7h15 da manhã. Face a isto, Bento organiza, pensa, posiciona, resiste, mas o avanço do inimigo é tal que as ordens são desde logo obsoletas mesmo antes de terem sido enunciadas. Mas o reduto resiste. O Capitão é mesmo assim feito prisioneiro e enviado para o campo de Bressen, onde é libertado em 11 de Novembro de 1918. Recebe a Cruz da Guerra no dia 8 de Junho de 1918.  

No fim do conflito, a 15 de Agosto de 1919, Bento Roma embarca com as suas tropas. Após a guerra, instala-se no campo de Tancos onde é incumbido de preparar as tropas de infantaria. De 1920 a 1923, desempenha o papel de governador dos distritos de Cubango, Luanda e Moxoco, em Angola. No dia 5 de Fevereiro de 1922, recebe a mais alta distinção concedida pelo exército português: o Colar da Ordem da Torre e Espada. Em 1930, torna-se Governador-Geral de Angola. Em 1932, é nomeado Grande Oficial do Império Colonial.

Todas estas altas funções estão ligadas a uma participação política por vezes paradoxal, uma vez que Bento Roma está convencido da importância do colonialismo e, ao mesmo tempo, opõe-se à ditadura de Salazar, fazendo campanha ao lado do General Norton de Matos.

Fontes
Arquivos militares portugueses online: https://arqhist.exercito.pt/details?id=126645
Robert MALLEVAYl, 250 anos de história em Neuve- Chapelle
Francis CARPENTIER : Loisne et Lawe, a vila de La Couture na Grande Guerra, Ed La Couture, Campos de Culturas, 2013