Fernando Tamagnini de Abreu, é a história de uma renúncia forçada. O General Tamagnini, ao comando do Corpo Expedicionário Português (C.E.P), é um homem notável e com uma carreira irrepreensível. Em Maio de 1917, o pequeno jornal descreve-o da seguinte forma «O General Tamagnini de Abreu, é o Comandante supremo das forças portuguesas que combatem na nossa frente. Alto, elegante, mantém a aparência jovem de um Oficial de Cavalaria, apesar de já ter ultrapassado os 60 anos.» A sua nomeação, pelo Ministro da Guerra Norton de Matos, é como um apogeu esplendoroso para alguém que se alista como simples soldado no 2º Regimento de Cavalaria, a 2 de Junho de 1873. Tem então 17 anos. Em 1892, é Director da Escola de Instrução, antes de passar para o Estado-Maior em 1914. É igualmente Comandante da 5ª divisão militar e preside ao Tribunal Militar.
Após a sua nomeação, assume a direcção do centro de instrução militar de Tancos, onde contribuirá para o famoso «Milagre». Os seus homens deram-lhe o apelido de «disciplinador». A tarefa é árdua: o temperamento lusitano das tropas torna o exército difícil, sendo frequentes os actos de rebelião, desobediência e desorganização. No entanto, este oficial de cavalaria enfrenta-os. Aliás, ele é mais militar do que propriamente diplomata, o que no início da sua carreira será uma mais-valia mas que se tornará mais tarde na causa do seu isolamento. Não obstante, o General conclui as negociações com o exército britânico que havia aumentado de forma desproporcional o sector português.
Refira-se que o clima político instável de toda a jovem República teve consequências importantes na participação do C.E.P em África, na frente oeste e na opinião pública portuguesa. A instabilidade é tal que os Governos mudam em média todos os 6 meses. A sua posição quanto à participação do C.E.P é inconstante, ao ponto de abandonar os soldados à sua própria sorte. A falta de empenho governamental terá uma outra consequência nefasta para O C.E.P: o aliado britânico, pouco favorável à participação de Portugal no conflito, aproveita para encetar negociações e aniquilar as ambições do C.E.P em formar um corpo armado e integrar directamente o exército britânico. A vantagem surge com a chegada ao poder do Presidente Sidónio Pais. No dia 8 de Setembro de 1917, o C.E.P perde o seu estatuto de corpo armado. Além disso, é decidido que o destacamento de trabalhadores enviados para França (o CAPI) deve ser afectado ao C.E.P e assim constituir um elemento de substituição. Tudo isto é demasiado para o General que, tendo tido a informação por simples telegrama, decide de defender a causa em Lisboa. Em vão. Ele decide então apresentar a sua demissão. Este direito ser-lhe-á igualmente recusado. A dissolução do corpo armado torna-se efectiva a 26 de Março de 1918.
De imediato, o General Tamagnini encontra-se isolado no seu «castelo», a mansão de la Peulouse, em Saint-Venant, local onde o corpo expedicionário instalou o seu quartel-general. Ei-lo agora despojado das suas prerrogativas de representação de Portugal em França.
No final da guerra, o General Tamagnini acompanha as tropas até ao embarque em Cherbourg, para regresso ao país, onde será recebido e condecorado com as devidas honras. No dia 15 de Fevereiro de 1919, é condecorado Grande-Oficial da Ordem de Avis. É mais tarde condecorado com a Grande-Cruz de Cristo e recebe, finalmente, a 14 de Setembro de 1920, a mais alta distinção do exército português: o Colar da Torre e Espada.
Fernando Tamagnini de Abreu falece em Lisboa a 24 de Novembro de 1924.
Fontes:
Christophe FERNANDES : Morne fado dans les tranchées ; mémoire de maîtrise ; Rennes 2003
Le petit journal numéro 1377, mai 1917